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A última que sair apague a luz

Trabalhar em empresas de tecnologia é uma roleta russa.

groselha

Trabalhar em empresas de tecnologia é uma roleta russa. Por um lado, você tem salários maiores que a grande maioria das pessoas e muitas oportunidades no mercado - porém, menos do que já tivemos; obrigado IA, VAR, geração XYZ (que, segundo pesquisas, é culpada por todos os problemas atuais) e alinhamento dos planetas. Porém é na crise que as coisas falham miseravelmente.

Pela minha conta de padaria, pelo menos 70% das novas startups não duram mais que 3 anos. Você provavelmente não vai ouvir falar mais das YC 2023 depois da copa de 2026 ou no mais tardar nas olimpíadas de 2028.

No começo tudo é festa:

  • “chefe, posso comprar uma MESA DE TOTÓ para colocar na nossa sala de reuniões?”;
  • “Mas precisa perguntar?, é óbvio que sim!!11 Compra também uma para o home-office de cada uma das pessoas desenvolvedoras híbridas”;
  • “E se focarmos em estreitar nossos laços e nos mostrarmos vulneráveis na frente de gente que nunca vimos na vida numa reunião semanal obrigatória de 3h na sexta-feira após o expediente??”;
  • “Mas QUE GRANDE IDEIA!!!”.

Compra de stock-options, venda de stock-options, recompra de stock-options, tira a camisa, bota a camisa. Aqui nós não somos uma empresa, mas uma família.

No meio, as coisas ficam um pouco mais estranhas. Você não vê nada óbvio, mas sente: “mercado desafiador”, “mudança de estratégia”, demissão silenciosa aqui e acolá para “acomodar melhor os times”, trocas em liderança. Momentos de dificuldade em vista, lealdade a empresa, camisas da empresa PP para quem veste GG, a pressão aumenta, “galera, a gente precisa disso pronto para duas semanas atrás, como estamos?”. Mas você segue, convicto de que as coisas vão melhorar, e lembra que precisa disso. E tem o tempo de vesting, né? Checa todo dia quanto as stock-options tão valendo.

No fim, reuniões comuns no dia a dia são desmarcadas em cima da hora. Produto fica bagunçado. Pressão, pressão, pressão. “Como assim isso não funciona? Eu mesmo poderia fazer um script para fazer funcionar se soubesse disso!”. Entra no Zoom para aquela reunião que era símbolo da empresa, quase ninguém aparece. Por um flash de segundos, igual aos comerciais da Jequiti, você vê os violinistas do Titanic tocando o encore. Muita gente saindo por conta própria, por conta dos outros, salário falha aqui e acolá. Finalmente pensa, “é galera, aqui acabou”, a última pessoa que sair que apague a luz. E abre o Word para atualizar o CV.